O Barroso é uma composição paisagística e natural do Norte de Portugal, integrando parte do Parque Nacional da Peneda Gerês, onde o sistema agrário existente é fortemente condicionado pelas características edafo-climáticas, predominando a pequena propriedade e sendo a criação de gado bovino, ovino e caprino em pastoreio preponderantes na economia agrícola da região, bem como a criação de porcos que dá um contributo fundamental para as economias domésticas e desempenha uma função social relevante.
É um sistema que se manteve, praticamente até aos dias de hoje, como uma economia rural de subsistência, típica das zonas de montanha, com uma baixa intensidade na utilização de fatores de produção, com muito poucos excedentes e em que o nível de consumo das populações é relativamente inferior a outras regiões do país.
As propriedades agrícolas são geralmente de pequena dimensão média e as condições agro-climáticas promoveram hábitos de exploração coletivos onde existe um esforço comunitário para benefício de cada habitante, estando as relações entre moradores assentes na entreajuda e solidariedade. O isolamento e as dificuldades para grandes produções agrícolas, promoveram modos de vida arcaicos, baseados num forte sentimento de comunidade em cada aldeia, onde a autossuficiência e a solidariedade entre os habitantes são elementos culturais muito próprios.
As áreas florestais são dominadas por carvalhais de Quercus pyrenaica e pinhais de Pinus pinaster, bem como matagais de várias espécies. Em zonas de menor altitude surgem carvalhais de Quercus robur e nas serras mais altas (> 800m), observam-se também pinhais de Pinus nigra e Pinus sylvestris, estes mais adaptados às condições adversas de ventos e neves mais frequentes. Junto às linhas de água, conservam-se bosques ripícolas de amieiros (Alnus glutinosa), freixos (Fraxinus angustifolia), vidoeiros (Betula celtiberica) e salgueiros (Salix atrocinera).
As culturas agrícolas são maioritariamente de sequeiro, com relevo para o centeio e a batata, cultivados em rotação com pousios. Mais perto das aldeias e das suas casas, mantem-se uma cintura de culturas regadas (sobretudo para a horta familiar), seguida das pastagens permanentes para a produção de feno e apascentar o gado. Mais afastados das populações, os campos de cereal de sequeiro e as áreas incultas de matos (normalmente baldios), onde se pastoreiam os rebanhos dos vários tipos de gados (bovino, ovino e caprino).
A localização geográfica, a orografia, os solos, o clima e, o Homem, levaram a que se desenvolvessem importantes comunidades vegetais e animais, inclusive com espécies/populações ameaçadas, segundo o sistema da IUCN. Trata-se de paisagens humanizadas com uma forte identidade cultural das comunidades humanas, que foram sendo construídas numa relação estreita e inteligente com o meio natural: o sistema de exploração dos recursos faz-se de forma sustentável, resultando em elevados níveis de biodiversidade e de qualidade ambiental. Não é assim de estranhar estarem partes deste território abrangidos pelo único parque nacional, Parque Nacional da Peneda Gerês, pela Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurês, e pela Rede Natura 2000, ZEP serra do Gerês e sítio Peneda/Gerês. Quer pela extensão de cobertura destas tipologias, mais de 70% do Barroso, quer pela sua qualidade, revelam a enorme importância da região à escala nacional e internacional, no que respeita à conservação na natureza e da biodiversidade.
Culturalmente, as populações do Barroso desenvolveram e conservaram modos de organização social, práticas e rituais que as distinguem da maioria das populações do país, nos hábitos, na linguagem, nos valores, fruto quer das condições e isolamento geográfico, quer dos recursos naturais limitados, que obrigaram ao desenvolvimento de métodos de exploração e uso compatíveis com a sua sustentabilidade.
Um dos seus aspetos diferenciadores é a prevalência ainda forte de um sistema alimentar local, baseado em produtos e pratos locais, confecionados com o fumeiro, o pão, a batata, as couves e as leguminosas produzidas localmente.
O papel dos diferentes tipos da paisagem, serras, planaltos e vales e o papel histórico da agricultura na construção da paisagem, conduziu ao aparecimento de aldeias com uma identidade local e que atuam como vetores de produção de subjetividades locais.
Ficha Técnica do Sítio:
Localização do sítio: A região do Barroso localiza-se no norte de Portugal, na Região do Alto Tâmega, sendo limitada a este pelo rio Tâmega, a oeste pelas regiões montanhosas do Alto Minho e sul pelas terras de Basto e a norte pela Galiza (Espanha). Em termos administrativos, corresponde a 2 dos 6 concelhos que compõem o Alto Tâmega: Boticas e Montalegre.
Coordenadas: 41.715848; -7.826219
Área do SIPAM: 1.127,40 km2
População: 15.589 hab.
Características topológicas: A região do Barroso é eminentemente planáltica e montanhosa, cujo aspeto geral é o de uma massa compacta de terras altas, constituída por um aglomerado de montanhas separadas por largas depressões e planaltos, atravessada por muitas linhas de água permanentes, mas de pequena dimensão.
Destacam-se as serras do Gerês (1546m de altitude), do Larouco (1525m) e do Barroso (1279m). Os vales mais significativos são os dos rios Tâmega, Cávado, Beça, Terva e Rabagão. Nas encostas mais pronunciadas os terrenos de cultura, sobretudo pastagens, estão armados em pequenos socalcos, suportados por muros de pedra de granito.
Classificação climática: Clima Temperado, com domínio do tipo Terra Fria de Planalto, mas também com tipologias de Terra Fria de Montanha, de Alta Montanha e de Transição.
O “Território de Sénia” situa-se em Espanha, na zona de convergência da Comunidade Valenciana, Catalunha e Aragão. Este território é constituído por 27 municípios ligados pela sua geografia, história, língua e cultura, e ao mesmo tempo possui a maior concentração de oliveiras milenárias do mundo.
Existem mais de 6.500 oliveiras milenares tornando esta zona num lugar único, e que oferece às comunidades locais inúmeras oportunidades de desenvolvimento rural, incluindo a recuperação de oliveiras antigas que estejam em estado de abandono, para que comecem a sua produção de azeite, e contribuem para que haja uma maior cooperação entre setores económicos, junto com "olivoturismo" e outras vantagens.
A produção média anual de azeite na área está estimada em mais de 12.000 toneladas. Estas atividades originam rendimentos para as populações locais e contribuem para uma melhoria da vida. Existem, também, variedades nativas de oliveiras que contribuem para a biodiversidade da região.
Segurança alimentar e de subsistência
No Território do Sénia, a distribuição por setores económicos é a seguinte: agricultura 13%, construção 11%, indústria 11% e serviços 65%. Apesar da maioria da população trabalhar no setor de serviços a importância da agricultura deve ser destacada.
Tanto a atividade agrícola com a pecuárias mantêm um equilíbrio e estão intimamente relacionadas. O olival necessita de outras atividades do setor primário, ao mesmo tempo que o sustenta. É um sistema sustentável tanto económica quanto ambientalmente.
O Território do Sénia é um grande produtor de azeite, são produzidos 12 milhões de litros por ano, variando de uma colheita para outra. Da mesma forma, o azeite produzido no Território do Sénia não tem apenas um propósito comercial, mas também tem uma grande importância para consumo próprio.
Agrobiodiversidade
As variedades de azeitonas são muito antigas e autóctones. Provavelmente tiveram origem quando os primeiros agricultores selecionaram a variedade de azeitona selvagem em uma determinada área. Ao selecionar esta variedade, selecionaram os exemplares com maior fruto, alto teor de ácido oleico, tolerância à geada e resistência ao vento. Por isso, diz-se que cada variedade é única e adaptada às condições climáticas de cada região específica.
Na área da Mancomunidad Taula del Sénia podemos encontrar quatro grandes variedades autóctones, que cobrem uma grande parte da superfície da área de cultivo da oliveira. As variedades mais importantes são: Farga, Morruda, Sevillenca e Empeltre. Importa referir que há outras variedades minoritárias que também são cultivadas em todo o território e são muito importantes pela sua diversidade autóctones, como Canetera, Llumeta, Cuquello e Marfil.
Existe uma grande riqueza genética na população de oliveiras no Território do Sénia. Possivelmente, devido à sua história, cada variedade chegou à região em épocas e origens diferentes. Portanto, essa diversidade também pode ser observada tanto no comportamento agrónomo das oliveiras como nas características do azeite que cada variedade pode produzir.
Sistemas de conhecimento local e tradicional
O antepassado da oliveira é a oliveira selvagem que se espalhou pelo Mediterrâneo graças às espécies de aves como o tordo. Esta árvore foi domesticada no Médio Oriente há 7000 anos e as variedades domesticadas foram transferidas para a Península Ibérica por diferentes civilizações.
Muitas das técnicas de cultivo da azeitona e da produção de azeite que são utilizadas hoje eram utilizadas também na antiguidade, conforme descrito nos tratados agrícolas romanos e árabes. Obviamente, estes tratados não foram lidos pelos agricultores que cultivam a oliveira há gerações ou ouviram falar da Columela ou do Catón, uma vez que os seus conhecimentos foram transmitidos oralmente, de geração em geração de agricultores e adaptados às características do território.
As práticas de cultivo da oliveira são comuns em todo o Território do Sénia e algumas características e técnicas utilizadas são típicas deste território, visto que dependem do tipo e variedade das oliveiras, das condições climáticas e do legado de tradições das gerações anteriores.
- Padrões da platação: distância de 12 metros entre as árvores e ausência de geometria na maioria dos casos. É um legado na forma como o olival começou nesta zona. O povo aproveitou as oliveiras silvestres já existentes e escolheu as mais vigorosas para a enxertia.
- Densidade baixa na plantação, entre 50 e 70 oliveiras por hectare.
- Sistema de formação de 1 pé de oliveira, normalmente a oliveira tradicional tem 2 ou 3 pés por oliveira.
- Tamanho das árvores: exemplares monumentais com copas de tamanho grande.
- 99% do olival do Território do Sénia é de cultivo tradicional por sequeiro.
- A renovação das oliveiras não se faz em toda propriedade ao mesmo tempo. As oliveiras que morrem são substituídas de maneira progressiva por árvores jovens.
- As variedades predominantes neste território são: farga, sevillenca y morruda.
- A poda depende do tamanho das árvores e do clima da zona.
- As construções em pedra seca ou a terra amontoadas são utilizadas para proteger as oliveiras do vento.
- O controlo de pragas (mosca da azeitona) é realizada de forma coordenada em todo território com armadilhas.
- No que diz respeito à produção de azeite, existe uma forte tradição no associativismo através de cooperativas que moem azeitonas de centenas de associados.
- Há uma grande capacidade de colaboração entre as diferentes cooperativas e produtores de azeite. Embora sejam concorrentes, podem juntar-se a eles para a realização do projeto Olivos millenarios Territorio do Sénia, e criar o marca de Garantía Aceite Farga Milenaria e seguir um Regulamento e as boas práticas.
Culturas, sistemas de valores e organização social
As tradições sobre azeite fazem parte da cultura do Território do Sénia. Algumas das antigas oliveiras do Território do Sénia têm o seu próprio nome e a sua própria história ou lenda, que são transmitidas de pais para filhos.
Entre as utilidades do azeite, a culinária é a mais difundida, apreciada e indicada para usufruir dos benefícios do azeite para a saúde. É a base da maioria dos pratos mediterrâneos e as suas nuances aromáticas são o culminar de qualquer prato.
Os eventos culturais de natureza lúdica em todo o mundo da oliveira e dos seus azeites valorizam as práticas tradicionais e celebram as etapas marcantes do ciclo anual da olivicultura e da extração do seu azeite. O trabalho agrícola do olival é variado e complexo e normalmente requer a participação de várias pessoas e respetivas famílias. Portanto, essas práticas são consideradas eventos sociais, onde se reúnem esforços, e são compartilhados experiências e conversas.
Organizações sociais:
- A Mancomunidad Taula del Sénia. Entidade pública local, constituída pelas câmaras municipais de 27 municípios da Comunidade Valenciana, Catalunha e Aragão. Trabalha em cooperação com diversos setores públicos e privados e lidera o programa de conservação e valorização da oliveira milenar no seu território. Estes municípios têm em comum a sua história, geografia, língua, cultura e a maior concentração de oliveiras milenárias.
- Associação do Território de Sénia. Associação privada sem fins lucrativos formada 50% pela Comunidade e 50% por diferentes setores económicos. O acordo entre as duas partes (público e privado) é necessário na tomada de decisões. Para além de todos os lagares que integram a marca Garantia, existem também proprietários de oliveiras, restaurantes e empresas de turismo, entre outras, que fazem parte da Associação.
- Comunidade local. Abrange a extensa rede associativa da área: entidades culturais, cívicas, desportivas, ambientais, entre outras. Estas entidades colaboram participando nas Jornadas Europeias do Património, bem como em eventos festivos relacionados com as oliveiras milenárias.
Paisagens terrestes e marinhos
O Território do Sénia é uma terra de contrastes, como se pode confirmar nas suas paisagens. Há 10 municípios da Mancomunidades que se encontram a mais de 1.000 metros acima do nível do mar. O pico mais alto é Tossal d’en Canader (1.396m). Além disso, o Tossal del Rei (1.356m) é o ponto onde se une Valencia, Catalunha e Aragão.
Além disso, a pecuária extensiva (ovinos e bovinos) é muito importante, especialmente nas áreas montanhosas, onde as paisagens são mais acidentadas e grandes áreas de prados são necessárias para sustentar o gado. Dentro destas áreas também existem quintas que continuam a praticar os prados sazonais.
Outra zona característica é a intermediária, onde os municípios se localizam entre 100 e 500 metros acima do nível do mar. Aí, a cultura comum e de base é o olival, dando origem a uma paisagem conhecida como “o mar das oliveiras”. No entanto, existem também outras culturas, como alfarroba, amêndoa e cereais. Nesta área está a maior concentração de oliveiras antigas no Território do Sénia.
O cultivo da oliveira no Território do Sénia é uma adaptação única ao espaço com uma história longa e frutífera. Tem as suas raízes nos primeiros processos de domesticação agrícola e tem desempenhado um papel fundamental na sua história, cultura, economia, ecologia e embelezamento das suas paisagens. Portanto, a oliveira é uma parte essencial da paisagem do Território do Sénia e constitui o sustento de grande parte da população destas terras. A oliveira e seus derivados fazem parte da cultura, da arte, da literatura, do folclore, dos rituais e, obviamente, da gastronomia.
Os olivais do Território do Sénia caracterizam-se pela presença de variedades tradicionais como Farga, Morruda, Sevillenca e Empeltre, difíceis de encontrar fora destas terras, o que confere personalidade e autenticidade à paisagem.
Ao mesmo tempo, é difícil encontrar um território com tantos quilômetros de costa. Nas áreas mais próximas do mar encontramos culturas de regadio, especialmente citrinos e quintas dedicadas ao cultivo de alcachofras e outras hortaliças. Nas zonas costeiras encontramos outras paisagens totalmente diferentes, como os extensos arrozais do delta do Ebro ou as explorações de ostras e mexilhões que constituem uma paisagem única.
Ficha Técnica do Sítio:
Localização: O Sistema Agrícola das Oliveira Milenares do Território do Sénia é composto por 27 municípios localizados no ponto de encontro de 3 Comunidades Autónomas diferentes (15 valencianos, 9 catalães e 3 aragoneses).
Coordenadas: 40.621330, -0.099138
Área do SIPAM: O SIPAM tem uma área total de 207.000 ha e 33.800 são dedicados à olivicultura.
População: 112.510 habitantes
Características topológicas: existem 3 áreas muito diferentes: montanha, planície intermédia e costa.
- Montanha: paisagem acidentada, encostas íngremes e alturas que ultrapassam os 1.000 metros. São 11 municípios que ocupam 61% do território e têm 12% da população.
- Planícies: formadas por amplas planícies e algumas montanhas de altura média. São 12 municípios que ocupam 27% do território e têm 17% da população.
- Costa: inclui toda a costa, com alturas mínimas acima do nível do mar. São 4 municípios que possuem 12% do território e 71% da população.
Classificação climática: embora existam diferenças entre as três zonas, em geral o clima é mediterrâneo, mas costuma haver fortes contrastes: um pouco de frio e neve no interior, ventos fortes e calor intenso no verão. A precipitação anual varia entre os anos mais secos e mais chuvosos, mas existem algumas diferenças dentro do território, geralmente chovendo mais na área montanhosa do que nas outras.
O Valle Salado encontra-se na localidade de Salinas de Añana (Álava, País Vasco, Espanha), aproximadamente a 30 km da capital, no norte de Espanha. Encontra-se atravessado por dois rios pequenos que se unem no centro do vale e assenta-se sobre uma bolsa de sal gigante de um mar que desapareceu hà milhões de anos.
Graças à existência de um fenómeno geológico chamado “Diapiro” e a injeção de água doce na bolsa, emergem vários mananciais de água salgada na parte mais alta do vale. Esta água salgada é canalizada mediante um sistema de canais engenhosos para os poços e as salinas, pela força da gravidade, onde se evapora para formar o sal.
As técnicas antigas de cultivo foram conservadas cuidadosamente, com a introdução gradual de alterações necessárias para preservar o sustento da comunidade local, mas conservando respeitosamente as condições básicas que a experiência demonstrou que são a chave do sistema.
Importância global:
O Valle Salado de Añana é um exemplo notável da interação entre o ser humanos e a natureza na criação de um sistema agrícola de produção de sal, cujas origens se remontam à pré-história, há mais de 7000 anos. Este sistema produtivo é um testemunho único de um modo de vida tradicional que dura até aos dias de hoje, desfrutando de uma evolução dinâmica e resiliente que permite que o seu método de produção se adapte às características de cada época para assegurar a sua sustentabilidade.
Comida e segurança alimentar:
A sustentabilidade da população de Añana está baseada na produção de sal. Sal que tem vindo a contribuir e contribui ainda hoje assegurando a segurança da população e proporcionando à comunidade de salineiros produtos agrícolas e serviços que, de outra forma, não tinham sido possíveis de desenvolver num ambiente tão abrupto e salgado.
Biodiversidade agrícola:
O Valle Salado encontra-se sobre um fenómeno geológico chamado diapiro, graças ao qual se gerou uma paisagem insólito onde os solos albergam depósitos com informação paleoambiental e paleoclimática de grande importância. No seu conjunto, o sistema destaca-se por uma biodiversidade extraordinária típica de humidade associada a ambientes salinos, pelo que integra a lista Ramsar de humidades de importância internacional.
Sistemas de conhecimento local e tradicional:
Um dos grandes valores deste sistema agrícola reside no saber fazer e nas infraestruturas desenvolvidas durante mais de sete milénios para melhorar a quantidade e qualidade do sal que produz. Destaca o seu sistema hidráulico complexo de distribuição e armazenamento de salmoura, composto por centos de canais de madeira de pinho que distribuem a água salgada, utilizando a gravidade, a todos os locais das salinas. Algo essencial para o funcionamento é o seu sistema antigo de distribuição por horas de líquido, assim como a sua inusual adaptação ao meio físico em forma socalcos e poços construídos pelo ser humano utilizando materiais como a pedra, a madeira e a argila.
A produção do sal em Añana está baseada na evaporação da água de forma natural. O sal produzido guarda-se nos armazéns situados debaixo das estruturas dos socalcos, onde se deixa secar até outubro, quando termina a colheita.
Cultura, Sistema de valores e Organização:
A associação de antigos proprietários das salinas, conhecida por “Gatzagak”, é uma entidade que agrupa os proprietários das parcelas no Valle Salado de Añana. A sua actual forma jurídica como Sociedade foi criada no final do século XX para se adaptar às mudanças do tempo. Este grupo de proprietários é uma das poucas organizações com mais de 900 anos de história. Foi criada por volta do primeiro quarto do século XII e durante séculos foi conhecida como “Caballeros Herederos de las Reales Salinas de Añana”.
Características das paisagens terrestres e marinhas:
Os salineiros e salineiras de Añana sempre colaboraram de forma simbólica com a natureza, e deram forma a uma insólita paisagem composta por milhares de socalcos, poços, muros e canais, onde se conserva a evolução das suas técnicas de produção de sal milenares. Por outro lado, as atividades de produção de sal também contribuíram para o desenvolvimento do habitat atual, assim como à manutenção de um ecossistema específico. Sem a interação humana, esta paisagem natural e esta biodiversidade estariam profundamente afetadas pelo excesso de salinidade que surge do interior da terra.
Este território do SIPAM é composto por 45 municípios que abrangem uma área administrativa de 630 km2. É constituído pelos distritos municipais valencianos de l’Horta Nord, l’Horta Oest, l’Horta Sud e da Ciutat de Valencia. Nesta superfície, a área abrangida pelo sistema de irrigação agrícola tradicional localizada neste território foi classificada pela FAO como um sítio do SIPAM.
A importância global do Sistema de Irrigação Histórico de l’Horta de València é determinada por seus antecedentes e sua estrutura histórica (de origem romano e ampliada em época árabe), a sua atividade agrícola, o seu sistema de gestão de regadio (que mantém viva a cultura milenaria da água) e que pela sua relevância contemporânea, lhe atribuem o reconhecimento de património identitário coletivo da população valenciana.
A zona é suportada por duas condições estruturais, a disponibilidade de água e a fertilidade do solo, aproximadamente 24% de toda a área é dedicada ao cultivo de frutas, hortaliças frescas e arroz, sendo os produtos obtidos destinados tanto ao autoconsumo dos agricultores, como a sua comercialização nos mercados locais e municipais.
Entre os vários de produtos, as principais culturas são representadas por laranjeira e tangerina, arroz, alcachofra, cebola, batata e castanha tigre, seguido de outros tipos de produtos como abobrinha, couve-flor, abóbora, caqui e romã. A eficiência do sistema de irrigação tradicional, amplamente utilizado em toda área, permitiu o desenvolvimento de técnicas agrícolas sustentáveis que são a base do sistema l'Horta. A construção de uma rede de canais garante o abastecimento de água aos campos e a fixação da população, o que possibilita o cultivo de árvores de fruto, hortas e arrozais. Além disso, o reaproveitamento de materiais provenientes de produtos secundários para preservação do solo tem contribuído para a criação de um sistema autossuficiente que respeita o meio ambiente. A agro biodiversidade da paisagem de l'Horta de València é o resultado de séculos de adaptação dos seus habitantes ao meio envolvente. Os ecossistemas criados, graças à diversidade de utilização dos solos, contribuem para a manutenção de uma elevada biodiversidade natural nesta área. A disponibilidade de água que caracteriza a zona, graças ao sistema tradicional de irrigação, tem contribuído para aumentar a diversidade de condições em que coexistem o grande número de espécies cultivadas. A agro biodiversidade provém de uma lista de 50 culturas, dos quais a sua maioria são vegetais frescos. A diversificação das culturas é garantida através do grande número de variedades locais e pela estrutura típica da paisagem, dividida em parcelas muito pequenas que garantem também a resiliência do ecossistema. A paisagem única de l’Horta de València proporciona condições de vida para muitas plantas e animais. L'Horta tem uma série de culturas únicas que são difíceis de encontrar em qualquer outro lugar da Europa. Em apenas 16 concelhos deste território, cultiva-se a castanha tigre, um tubérculo que constitui a matéria-prima da bebida refrescante denominada Horchata de Chufa de València (com DOP Denominação de Origem Protegida).
No Sul, perto do lago de Albufera, crescem as variedades locais de arroz, centenárias, das quais se colhe o arroz que é utilizado no prato tradicional da Paella Valenciana. Este é um prato é reconhecido internacionalmente. A agro biodiversidade da região recebe também apoio de alguns projetos locais que visam a promover a manutenção do uso local de sementes e a preservação genética de variedades locais. O sistema de conhecimento local e tradicional é singular, este sistema agrícola está estritamente relacionado com o método de distribuição da água adotado para o regadio, que tem as suas raízes na época romana.
Este sistema de água é constituído pela Séquia Reial de Moncada, o Canal do Turia e todos os canais hidráulicas geridos pelo Tribunal de les Aigües, são concebidos para serem utilizados através do método de regadio por gravidade. Este sistema é o símbolo de uma domesticação secular de um recurso hídrico para possibilitar o cultivo ao longo do ano. O conhecimento tradicional foi transmitido de geração em geração e é necessário para a manutenção do território. A água é distribuída entre os agricultores de acordo com uma ordem contígua de regadio dos terrenos localizados no topo até aos do fundo. Esse tipo de sistema é conhecido como turno, em que um ciclo de regadio, geralmente, dura uma semana. Portanto, a menos que haja falta de água, os agricultores podem regar semanalmente e a ordem de rega também é mantida, em caso de falta. Desta forma, quando a disponibilidade de água diminui, o ciclo de regadio prolonga-se. As culturas, sistema de valores e organização social L'Horta de València influencia a cultura local e as instituições, incluindo o Tribunal de les Aigües, a mais antiga instituição de justiça da Europa e reconhecida pela UNESCO, em 2009, como Património Imaterial da Humanidade. Este tribunal tem autoridade e competência sobre todas as parcelas e é responsável por promulgar e aplicar suas normas tradicionais para a distribuição de água.
Outra instituição importante é La Tira de Comptar, de origem árabe e oficializada em 1238 pelo rei Jaume I, fundador do Regne de València, que garantia o abastecimento de produtos frescos à cidade, o direito dos agricultores de participarem no mercado de frutas e hortaliças, além de regulamentar sua atividade privada. Atualmente, o armazém da Tira abrange uma área de 6.000 m2, onde, até 1.600 agricultores, podem vender os produtos que cultivam e colhem. A peculiaridade deste sistema é que cada agricultor realiza a venda dos produtos cultivados na sua propriedade, de forma que a Tira, seja o canal mais curto e direto para a comercialização de frutas e hortaliças.
Além disso, na l'Horta de València existe um conjunto de edifícios, de natureza diferente, construídos ao longo dos séculos e que estão estreitamente ligados à organização rural do sítio, pelo que estes elementos arquitetónicos representam um modo de vida característico da paisagem territorial.
Relativamente às zonas ecológicas, esta área de abrangência deste sítio SIPAM são áreas não urbanas cobertas pelo sistema de irrigação que define o local, distribuídas em um total de 180 km2, dos quais 120 km2 estão localizados no território protegido definido no Plano de Ação Territorial e Dinamização de l'Horta de València (PATODHV), e 60 km2 no Parque Natural de Albufera e parcelas anexas. Da área total, cerca de 149 km2 são cultivados, sendo 120 km2 na chamada Horta histórica e 29 km2 na área do arroz do Parque Natural.
As zonas Norte e Oeste e uma parte significativa da zona Sul do SIPAM são ocupadas por pequenas parcelas agrícolas, irrigadas pelos canais históricos cujo regime secular de distribuição de água depende do Tribunal de les Aigües e da Séquia Reial de Moncada que ocupam a maior parte do sistema (12.000 ha de cultivo mais outras áreas que incluem infraestruturas de irrigação, edifícios, estradas, bancos, terrenos não desenvolvidas sem cultivo).
A parte sul da rede de rega desagua no Parque Natural de Albufera, pertencente à Ciutat de València, onde coexistem as atividades de pesca artesanal com áreas de regadio de arroz. Representa uma das paisagens mais interessantes do Mediterrâneo e uma das áreas de maior valor ecológico da Península Ibérica, sendo um ecossistema essencial cuja perseverança é, em grande medida, consequência das zonas históricas zonas de regadio, existindo, por isso, uma ligação natural entre o lago Albufera (3.000 ha de lago e canais com mais 2.900 ha de campos de arroz) e o resto da histórica l’Horta.
Ficha Técnica do Sítio:
Localização do Sítio: A Comunidade Autónoma Valenciana, Espanha. O local do SIPAM que corresponde ao sistema de regadio histórico é uma área agrícola periurbana em torno da cidade de Valência e dos 44 municípios nas regiões de l'Horta Nord, l'Horta Sud e l'Horta Oest, portanto é facilmente acessível desde a cidade de Valência.
Coordenadas: encontra-se em 39°28′00″N 0°22′30″W. As coordenadas do SIPAM del Norte son 39°37′44″N 0°17′47″W (Puçol), as do Oeste 39°31′3″N 0°30′16″W (Manises) e as do Sul 39°16′45″N 0°16′30″W (El Perelló).
Superfície do SIPAM: No total, este sítio do SIPAM abrange cerca de 18.000 ha, distribuídos entre os 12.000 ha de área agrícola irrigada pelo sistema que compõe as parcelas reguladas pelo Tribunal de les Aigües e pela Séquia Reial de Moncada, cultivadas, aproximadamente, de citrinos ( 7.800 ha), hortaliças (3.800 ha), castanha tigre (540 ha), e o cultivo de arroz, 2.900 ha e a superfície do lago e os canais de l'Albufera, 3.000 ha.
População: A população total do sítio do SIPAM é de 1.552.201 habitantes, sendo a cidade de Valência a mais populosa com 791.413 habitantes (dados 2021). A comunidade agrícola é composta por cerca de 1.600 agricultores profissionais e 9.000 pessoas que trabalham na agricultura.
Caracterização topográfica: A planície do cinturão costeiro do Mediterrâneo eleva-se progressivamente do mar para o interior. De uma altura de 60m acima do nível do mar, a água desce do rio Turia (Assut de Moncada) abastecendo as parcelas de regadio por gravidade.
Classificação climática: Clima mediterrânico comtempreaturas médias, com mínimas de 10⁰ e máximas de 25⁰. A precipitação média atual é de539 l/m2.
As técnicas de cultivo na vinha de uvas passas no território da Axarquía são ancestrais, devido à impossibilidade de intensificação, o que dá origem à escassa margem de rentabilidade do cultivo. Na Axarquía existe uma série de condições que dificultam a realização das tarefas de cultivo, sendo necessário realizar as tarefas totalmente manualmente. Assim, as inclinações do terreno ultrapassam os limites de segurança para a realização de trabalhos mecânicos. É uma agricultura de baixíssima tecnologia e defensora de tradições, que mantém as mesmas práticas culturais da antiguidade, sem abuso de produtos sintéticos e com predominância de práticas agrícolas ecologicamente corretas (cultivo mínimo, aporte de matéria orgânica, etc.), o que implica um elevado emprego de mão-de-obra.
Todo o processo de produção de uvas e obtenção de uvas passas é feito manualmente com tarefas tradicionais que foram transmitidas de geração em geração e que fazem parte do património agrícola do sistema. Assim, o plantio e a lavoura são feitos manualmente; assim como a poda, para a qual o viticultor usa tesouras específicas, e a fertilização que, a cada dois anos, leva o agricultor a aplicar o estrume manualmente; Por fim, os poucos tratamentos fitossanitários que se aplicam são feitos com uma mochila que o agricultor carrega nas costas.
Chegada a época da vindima, os cachos são cortados à faca e colocados nos cochos ou caixas que serão colocados numa moldura denominada "espedrera" e esta, por sua vez, na mula que irá transportar as uvas para o lagar. O processo termina com o descasque da passa, logo que as uvas estejam secas.
Na Axarquía o sistema de plantação utilizado é relevante: plantação escalonada; que apresenta um claro predomínio sobre os restantes sistemas utilizados, ocupando 90% da superfície do concelho. Este sistema é o que melhor se adapta às características topográficas da região, uma vez que a disposição das plantas em filas paralelas e diagonais ajuda a travar a erosão e o varrimento dos solos. A impossibilidade de mecanização faz com que os agricultores aumentem a densidade de plantio, que pode chegar a 5.000 videiras por hectare.
O sistema de plantio é complementado com a poda da vinha, que é efetuada em redondo ou em copo. Para formar a planta, um único ramo é escolhido como guia e um botão visível é podado na cortina. No ano seguinte resta outra videira com características semelhantes, que será podada em três botões visíveis. Desta forma, três ramos são obtidos, dos quais dois são escolhidos que formarão um "V" muito aberto. O treinamento continuará até que quatro braços sejam alcançados.
Da mesma forma, a poda anual de frutificação é significativamente específica, visto que visa a obtenção de cachos soltos, pouco compactos e com bagos grandes, que permitem obter passas da mais elevada qualidade. A poda é feita deixando 4, 5 e até 6 braços para cada planta e um polegar com duas gemas fica em cada braço, uma que será a gema da frutificação e outra destinada a prolongar o braço que irá sombrear o cacho durante o verão e possibilitar a extensão do braço no ano seguinte.
As limitações climáticas da área levam o viticultor a tentar selecionar polegares para baixo, o que favorece que o cacho repouse sobre uma cama limpa e surjam novos brotos que cobrem os cachos durante o período de maturação estival. Esta forma de trabalho dá origem a explorações agrícolas que não respondem, no essencial, ao funcionamento e organização dos postulados em que assenta a economia capitalista, mas sim apresentam um marcado carácter familiar, caracterizado por um baixo nível de capital, ao contrário. a uma abundância de trabalho. Essa economia agrícola, baseada na estrutura do pequeno proprietário ou da posse da terra com características idênticas, condicionava a intensa dedicação dos familiares ao cultivo. Assim, enquanto os homens realizavam as tarefas mais difíceis de plantar, cultivar, podar, colher e trabalhar nos paseros, as mulheres participavam na colheita dos ramos, no corte e na seleção das passas e na viragem dos paseros.
Ficha Técnica do
Sítio:
Localização do sítio: O Sistema de Produção de Uva Passas de Málaga na Axarquía está localizado na região natural de Axarquía, no extremo leste da província de Málaga, que é uma das oito províncias que formam a Comunidade Autónoma de Andaluzia, ao sul da Espanha.
Coordenadas: 36º50’00’’ N / 4º10’00’’ O
Área do SIPAM: O SIPAM tem uma área total de 28.039 hectares, distribuída entre 16.673 ha na subzona Axarquía Leste e 11.366 ha na Baixa Axarquía. Nessa área existem 1.113 hectares de produção de uvas destinadas à uva e 13.310 hectares de outras lavouras, entre elas 1.532 hectares dedicadas à produção de uva, não necessariamente de uva.
População: De acordo com os últimos dados disponíveis, a população total da Axarquía é de 206.226 habitantes, sendo o Município de Vélez Málaga, na zona costeira, o mais populoso, com uma população próxima de 79.000 habitantes. No total, são 31 municípios que compõem a região.
Características topológicas: A altitude média alcançada na Axarquía é de 391 metros. Embora essa média seja elevada, não é menos verdade que a identidade da região configura um território que projeta um relevo com declives acentuados, onde em apenas 40 km em linha reta ultrapassa 2.068 m. altitude desde o seu pico mais alto (pico Tejeda ou La Maroma, nas serras de Tejeda, Almijara e Parque Natural Alhama), acima do nível do mar. A declividade média da área produtora é superior a 45% em mais da metade de seu território, sendo a videira e outras plantas lenhosas os principais freios à desertificação dessas áreas.
Classificação climática: O clima desfrutado na região é mediterrâneo, atingindo uma temperatura média média em torno de 17º.
Da baía de Aiguillon a Niort, da planície de Vendée à de Aunis, a região de Marais Poitevin é constituído por 92 municípios (280.765 habitantes), está divididos em 3 departamentos e 2 regiões.
É considerada a primeira zona húmida da costa atlântica com 8.200 km de vias navegáveis, 1.000 km de diques, 850 km de ciclovias, 594 estruturas hidráulicas, 330 espécies de pássaros, 750 espécies de plantas.
É também um verdadeiro mosaico de paisagens com a baía de Aiguillon e a costa, entre o oceano e a água doce, os pântanos ressecados e o vale Lay com as suas paisagens infinitas, os pântanos húmidos, a Veneza Verde, uma delicada aliança de água e vegetação. Por este motivo, foi-lhe atribuído 3 classificações: Parque Natural Regional de Marais Poitevin (PNRMP), Grande Sítio da França e Destino Europeu de Excelência. Um destino turístico por si só no Atlântico, a apenas 2 horas de carro de Bordeaux ou Nantes e a 2h15 de TGV desde Paris, e consegue atrair cerca de 1.400.000 visitantes por ano.
Para que os seus compromissos sustentáveis, a qualidade do alojamento, os serviços turísticos e os produtores locais sejam reconhecidos, o Parque Natural Regional do Marais Poitevin optou por expor a marca nacional “Valores PNR”.
Os candidatos a estas classificações têm o compromisso de proteger o meio ambiente, o bem-estar dos residentes e funcionários, bem como a economia local. O Parque já premiou mais de 80 profissionais que oferecem produtos agroalimentares, conhecimentos tradicionais e inovadores e serviços turísticos. Já estão marcados 30 serviços turísticos, 11 hostels, 9 quartos, 3 passeios de barco com guia (docas), 6 locais de visita, 1 passeio de bicicleta com guia. O PNR é o primeiro parque natural regional de França a ter estabelecido uma fileira para a produção de carne de vaca, com 45 criadores.
Os dirigentes eleitos e os atores locais uniram-se em torno de valores fundamentais que dão sentido às suas ações. O Parque Natural Regional do Marais Poitevin, está longe de ser um espaço “vedado”, é sim, mais que tudo um território habitado, que deve estar sempre mobilizado.
Ficha Técnica do Sítio:
Localização do sítio: Marais Poitvin localiza-se na encosta atlântica, entre Bordéus e Nantes, constituído por 92 municípios, distribuídos por 2 departamentos e 2 regiões administrativas.
Coordenadas: Latitude: 46.321946 / Longitude: -0.585534
Área do sítio: 107.526 ha com 35.200 ha cobertos por pastagens naturais. Com cerca de 1.500 explorações agrícolas, a agricultura é voltada para a pecuária (bovina, equestre) e o cultivo de cereais (trigo, canola, milho, girassol). Na Bahía del Aguijón, a cultura do mexilhão (mitilicultura), é uma das principais atividades dos habitantes, representando 15% da produção nacional.
População: 280,765 habitantes
Características topológicas: É considerada a primeira zona húmida da costa atlântica com 8.200 km de vias navegáveis, 1.000 km de diques, 850 km de ciclovias, 594 estruturas hidráulicas, 330 espécies de pássaros, 750 espécies de plantas.
É também um verdadeiro mosaico de paisagens com a baía de Aiguillon e a costa, entre o oceano e a água doce, os pântanos ressecados e o vale Lay com as suas paisagens infinitas, os pântanos húmidos, a Veneza Verde, uma delicada aliança de água e vegetação.
Classificação climática: O clima é oceânico, maioritariamente afetado por um fluxo ocidental que provoca um ambiente de alguma suavidade e humidade. A inércia térmica do oceano permite que o calor acumulado no verão seja devolvido no inverno e a frescura acumulada no inverno seja devolvida no verão.
O Sítio “O Montado da Serra de Serpa” encontra-se atualmente em processo de candidatura à FAO / SIPAM. Situa-se no concelho de Serpa, sudeste de Portugal, na região do Alentejo.
Essa relação de subsistência do ser humano com a natureza, num quadro marcado pelo isolamento e num local com características edafo-climáticas adversas resultou num sistema agrícola autossustentável, resiliente e estruturante da paisagem.
Inserido na raia de Portugal o território possui uma densidade populacional de cerca de 12hab./Km2, estimando-se a sua população atual em 7 500 hab.. Cerca de 37% dos 621,5 Km2 classificam-se como espaços naturais. No uso do solo o domínio agroflorestal (classes “agricultura”, “pastagens”, “superfícies agroflorestais” e “florestas”) é de 96%. A relação do trabalho com a terra é igualmente particularizável situando-se nos 40ha de SAU por UTA, sendo que a média nacional é de 12,5ha. Na pecuária o território possui mais de metade do gado herbívoro e granívoro do município assistindo-se nas últimas décadas a um decréscimo da riqueza gerada pela produção vegetal. A percentagem do valor da produção pecuária tem vindo a crescer naquele período e, neste contexto, assistiu-se também ao aumento do gado bovino e a uma diminuição dos pequenos ruminantes. No que concerne à dimensão média das explorações ela é de cerca de 3,5 vezes a média nacional de 14ha.
Se o município de Serpa é um dos mais representativos dos sistemas extensivos em Portugal, no território proposto existe um exemplo vivo de um sistema, único no mundo, a saber: o Sistema Agro-Silvo-Pastoril do Montado. É este sistema, ainda hoje mantido, que pode ser amplamente observado na Serra de Serpa. Naturalmente, as práticas associadas a tal sistema constituem elementos patrimoniais seculares encerrando importantes dimensões como sejam a histórico cultural, a económica e a da biodiversidade.
Em concomitância e interligação observa-se ainda um mosaico composto por outros sistemas extensivos: a) Produção Pecuária b) Culturas arvenses de sequeiro, c) Olival tradicional e d) Pomares de sequeiro e hortas.
A agrobiodiversidade constituinte do Montado, fruto do saber passado através das gerações, torna-se evidente através de um numeroso conjunto variedades, espécies e raças, muitas delas autóctones, que originam produções também elas diversificadas. Como se descreve no documento um importante número quer de variedades vegetais ou de raças autóctones bem como de produções encontram-se hoje devidamente reconhecidas. É o caso das variedades Cordovil, Verdeal e Galega que originam o azeite de Moura DOP; da Cabra Serpentina que origina o Cabrito do Alentejo IGP; dos ovinos de raça Campaniça e Merina que originam o queijo Serpa DOP; da Carne de Vaca Mertolenga, DOP; da Carne de vaca Alentejana DOP; do Porco Alentejano que origina a Carne de Porco Alentejano DOP, o Chouriço de Carne do Baixo Alentejo IGP e o Presunto do Alentejo DOP e, também, da produção apícola que origina o Mel do Alentejo DOP.
No domínio da biodiversidade é também de elevado valor o conjunto largo de espécies faunísticas e florísticas existente muitas delas que apenas se encontram neste espaço e/ou merecem estatuto de conservação.
Os saberes fazer tradicionais, se estão intimamente relacionados com os sistemas de produção primária anteriormente mencionados, resultam numa especialização agroalimentar do território também diversa que se expressa em diversas produções integrantes da “Dieta Mediterrânica”, classificada como património da humanidade pela UNESCO. Contam-se assim o pão, o azeite e a conserva e azeitona, os lacticínios (queijo de ovelha, requeijão, queijo de cabra do guadiana), os produtos cárneos (presunto, a cabeça de chara e os torresmos, a par de oito variedades de enchidos onde se contam os mangotes de vila nova).
Os saberes fazer ainda hoje existentes, não se resumem contudo à produção agroalimentar, eles estão presentes também no pastoreio extensivo e na arte chocalheira (reconhecida igualmente pela UNESCO); na tosquia, no tratamento de lã e teares; na gestão do montado, na produção de porco de montanheira e tiragem de cortiça; na identificação e recolha de cogumelos e ervas; na caça e na pesca; na construção tradicional (construção em taipa) e num conjunto de mais de dezena e meia de artes e ofícios tradicionais.
No domínio da cultura local é icónico o Cante Alentejano (classificado pela UNESCO como património da humanidade), mas não são menos importantes a dieta alimentar, os espaços de socialização da taberna, a adiafa, o madeiro de natal as festas religiosas a par de três eventos de superior importância quer no domínio da preservação do saber, quer no domínio económico e turístico, o Cortejo Etnográfico de Serpa, a Feira do Queijo do Alentejo e a Feira do Enchido e do Presunto.
Para finalizar o conjunto de elementos patrimoniais, se a diversidade de sistemas agrícolas presentes origina, num só espaço, um não menos diverso conjunto de paisagens do rural mediterrânico, nele merece destaque aquela que originou o nome do espaço proposto para GIAHS, o Montado da Serra de Serpa.
Ficha Técnica do Sítio:
Localização do sítio: O espaço geográfico “O Montado da Serra de Serpa”, situa-se no concelho de Serpa, sudeste de Portugal, na região do Alentejo, junto à fronteira com Espanha. Este território possui características únicas no quadro da agricultura mediterrânica tradicional, de sequeiro e marcadamente de subsistência.
Área do SIPAM: 621,5 Km2
População: 7.500 hab.
Um território Volcânico de montanha média Cantal é um departamento francês situado na região de Auvergne-Rhône-Aples, no Centro do Maciço Central.
Foi desde sempre um território agrícola e pecuário. A sua agricultura foi-se construindo ao longo do tempo a partir de uma riqueza natural: a erva. As suas paisagens variadas e grandes extensões de prados (mais de 90% da superfície agrícola é pastagens) foram sendo moldadas pelo maior vulcão da Europa. Surgem cerca de vinte vales a partir do seu centro, começado em forma de estrela, por vezes amplos, outras vezes estreitos, arborizados ou sem nada. Os altos planalto são os testemunhos de dois antigos fluxos de lava que lhe deu origem, proporcionam pastos abundantes e apreciados pelos animais. A água, omnipresente, gera paisagens particularmente verdes (dando origem ao nome “país verde” por que é conhecido Cantal). A paisagem diversa é composta por cascatas, desfiladeiros, lagos e turfeiras. A flora e fauna são características das zonas de montanha média.
Terra de pecuária e queijo em Cantal é predominante a criação de gado.
Há mais vacas que habitantes nesta zona rural! O sistema agro-pastoril tradicional foi conservado, com animais a passar o inverno nos vales e os verões na montanha onde abundam os prados verdes, até às primeiras neves. Anualmente em Alanche é celebrada a “subida ao estive” durante a Festa do Estive. Este sistema de criação de gado baseia-se principalmente no pastoreio respeitando o meio ambiente e a biodiversidade do território.
Em Cantal há uma raça autóctone de bovinos, a raça Salers. É uma raça de bovinos rústicos com pelagem de cor vermelho caju, com cornos muito característicos, em forma de lira, são conhecidos pelas suas qualidades maternais e facilidade na criação de bezerros. A pecuária é utilizada tanto para a produção de carne como para a produção de leite.
Cantal é uma terra de queijos que conta com técnicas ancestrais para a sua elaboração. Tem 5 queijos classificados com DOP (Denominação de Origem Protegida) com especificações que se baseiam principalmente na produção de leite e de pastoreio: Cantal, Salers, Saint-Nectaire, Fourme d ‘Ambert y Bleu d’Auvergne. Entre estes queijos, o queijo de Cantal e o de Salers com queijos duros e crus feitos de leite de vaca.
Para o fabrico destes queijos de forma tradicional são necessárias no mínimo 33 horas para fazer uma peça de cerca de 40kg, e podem ser degustados desde os 2 meses aos 12, 15, 18 meses de cura. Se for um queijo exclusivamente agrícola Salers, a produção é sazonal de 15 de abril a 15 novembro, quando as vacas estão no pasto e produzem leite e queijos de alta valor nutricional. Outra das produções ancestrais herdadas é a elaboração do queijo Salers Tradition, que é obtido exclusivamente do leite das vacas de raça Salers. A ordenha do leite nestas vacas é processo único e específico. A vaca Salers apenas deixa ordenhar o leite se o vitelo estiver ao lado, e é ele que suga os primeiros jorros de leite, dando assim início ao processo todo, só depois é que a vaca permite que ordenhem o leite.
Para além do queijo, existem outros produtos agrícolas tais como as carnes, enchidos, mel, arándanos, castanhas, maças, lentilhas e inclusive vinho. A partir das raízes da planta Genciana amarela é feito licor e aperitivos Avèze y Salers, esta planta encontra-se nas terras mais altas.
Um património, testemunho de uma agricultura do passado.
O património construído rural reflete tradições agrícolas passadas. Podemos encontra-las em todo território: pacuária, estábulo tradicional, bebedouro no centro das aldeias, trabalhos de ferreiro, moinhos e os abrigos dos pastores. Estes abrigos são pequenas construções com tetos de lousa localizados no meio dos prados de montanha, que serviam para pastores passar o verão, onde ordenhavam as vacas e faziam os queijos. Nas caves destes abrigos, feitas de pedra e terra, eram curados os queijos de Cantal. No outono os pastores e o gado desciam para os vales. Hoje em dia, estes abrigos estão abandonados, tendo sido reabilitados alguns para fins turísticos e de segunda habitação.
Características similares a um SIPAM (Sistema Importante do Património Agrícola Mundial).
Paisagens preservadas de natureza e biodiversidade, paisagens vulcânicas de montanha média, região de criação de gado, com raça autóctone de vaca emblemáticas do território, património construído rural preservado, tradições ancestrais na elaboração do queijo. Todos estes aspetos de Cantal fazem com que este seja um território similar a um território SIPAM/FAO.
Um forte vínculo entre agricultura e turismo.
A economia de Cantal baseia-se na agricultura e no turismo. Os turistas são atraídos primeiro pelas paisagens vulcânicas e atividades ao ar livre, gastronomia local (queijos, carnes, enchidos e outros produtos que constituem os pratos típicos de Cantal) e a vista a quintas com criação de gado local que dão origem às paisagens do território e que dinamizam a economia dos diferentes povos rurais da região através de festivais e mercados agrícolas.